A temporada 2019 do Império Endurance Brasil, o campeonato brasileiro de provas de longa duração, consagrou de vez o AJR como o carro mais rápido do Brasil. Um dos modelos do protótipo, o #65 da dupla de pai e filho Nilson e José Roberto Ribeiro, do Mato Grosso do Sul, numa conquista duríssima, sobre os GTs vindos da Europa, para o bólido fabricado no Brasil – assim como seu gerenciamento eletrônico.
Os números comprovam o domínio: os AJR fizeram todas as pole-positions da temporada (sempre com médias entre 170 km/h e 190 km/h) e venceram sete das oito corridas (a restante entre os protótipos foi vencida por uma Ginetta, protótipo fabricado na Inglaterra). O modelo do clã Ribeiro venceu três provas e foi campeão na sua categoria e na classificação geral, onde além de modelos idênticos, precisou enfrentar rivais como os badalados Mercedes AMG GT3, Porsche 911 R e Ferrari 488 GT3.
Para ser campeão, não foi necessário somente ser mais rápido que máquinas europeias, guiadas por pilotos do calibre de Daniel Serra, Ricardo Maurício e da dupla Xandy e Xandynho Negrão. Foi preciso também ser o mais resistente (todas as provas duraram de três a seis horas) e o mais veloz, como vamos ver nos – impressionantes – números a seguir.
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Comparação em Interlagos
As velocidades do carro são incríveis: em 2019 em Interlagos, o AJR atingiu incríveis 280 km/h de velocidade máxima ao final da reta dos boxes (onde precisa frear para cerca de 70 km/h no contorno do S do Senna). Não muito atrás dos 330,6 km/h da Ferrari de Charles Leclerc, o mais veloz na classificação do GP Brasil de Fórmula 1 em 2019.
Na última vez que o Mundial de Endurance (WEC) veio a Interlagos, em 2014, a pole da categoria LMP2, superior, porém ainda assim aquela que mais se aproxima dos protótipos nacionais, ficou em 1min24s463. Em 2019, o AJR dos Ribeiro fez a pole no mesmo circuito em 1min28s332, menos de quatro segundos atrás.
Ainda, para fins de comparação, a pole-position da última prova de 2019 da Stock Car, maior categoria do automobilismo brasileiro, no circuito paulistano, ficou em 1min37s802, quase dez segundos mais lento do que o protótipo nacional.
Horas e horas em carga máxima
Criado pela família Moro e fabricado em Cachoeirinha (RS), região metropolitana de Porto Alegre, pela JLM Racing, o AJR possui chassis de estrutura tubular em aço cromo molibdênio, carenagens de composite e fibra de carbono nas asas – a traseira possui o sistema de asa móvel como o da Fórmula 1. O motor preferido das equipes para estes bólidos é o Chevrolet V8 LS3 aspirado, o mesmo utilizado no Camaro.
No AJR #65, cujo motor é preparado pela MotorCar Racing, a receita inclui upgrades em itens como cabeçote, comando de válvulas, coletor de ar em alumínio e de escape dimensionado, com manta protetora de calor e bomba de óleo externa. Tudo para gerar 650 cv a 6.500 RPM em corridas que, em 2020, vão durar de quatro a seis horas. “Em provas de quatro horas, com mais dois dias de treinos, o motor trabalha um total de sete horas em carga máxima no fim de semana”, diz o diretor da MotorCar, Rafael Cardoso.
O gerenciamento eletrônico é comandado por uma FuelTech FT600, com uma FuelTech WBO2 Nano em cada um dos dutos de escapamento. Neste caso, com escape no estilo 8x2, o equipamento faz a média dos valores e apresenta o valor final para o sistema de malha fechada. O carro se vale de facilidades como o controle de tração ativo através da medição de velocidade e leitura de pressão de óleo e combustível com o sensor de pressão PS-10B.
Reforço no time
Para 2020, a fórmula vencedora no carro da família Ribeiro desenvolvida pela MotorCar será estendida a outros dois AJR: o #11, da dupla Emílio Padron e Vítor Genz, e o #43, que será comandado por Vicente Orige, figura conhecida também por seus velozes Kadetts em seus anos na arrancada, todos com FuelTech FT600.
Para equilibrar forças e reduzir custos, o regulamento terá novidades em 2020: o peso mínimo do carro subirá de 900 kg para 940 kg. Os discos de freio de carbono serão trocados por mistos de cerâmica e carbono, enquanto a única borboleta de admissão de ar no motor permitida poderá ter até 90 mm (eram até oito borboletas em 2019).
A receita campeã nas pistas ainda inclui câmbio Xtrac de seis marchas com paddle shift, ajustes no volante a respeito de carga de suspensão, controle de tração e módulo do ABS e generosos pneus com 325 mm de largura na traseira, para transmitir ao solo as doses cavalares – e contínuas – de potência recebidas.
Quatro categorias, quatro títulos FuelTech
O AJR de Nilson e Beto Ribeiro não foi o único carro com FuelTech campeão no grid do Endurance Brasil em 2019: na classe P2, o MRX Tubarão com motor Ford Duratec turbo, de Mauro Kern e Paulo Sousa, também levantou a taça. O mesmo ocorreu com o clã Carlos e Yuri Antunes, na categoria P3, e Ricardo Haag e Mário Marcondes na P4, ambos com modelos MRX de motor Volkswagen da equipe MotorCar.
Na P1, a classe principal dos protótipos, o #65 teve a companhia de outras duas máquinas de fabricação nacional com FT600: o Sigma (equipado em 2019 com motor Audi V8 4.2 turbo), de Jindra Kraucher e Aldo Piedade Jr., e o DTR (motor Honda K20 turbo), de Eduardo Dieter e Francesco Ventre. Que se inspiram no AJR para brilhar nas pistas como o modelo já campeão.
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