Você já conhece Celso Camargo e seu Opala das pistas de arrancada. Na rua, seu modelo preferido não poderia ser outro, um pouco mais dócil e sem precisar trocar as marchas
“Opala, turbo e câmbio automático: a receita é infalível”. A definição sobre um modelo ideal de carro de rua para o lazer é de ninguém menos do que Celso Camargo, Multicampeão e recordista em provas de arrancada no Brasil, sempre a bordo de um bom e velho Opala seis cilindros, ele foi fisgado pelos turbos em 2013, quando ingressou na categoria Turbo Traseira A (TT-A).
Desde então, os motores turbo tornaram-se a receita preferida de Camargo até para seu projeto convencional (“não dá cabeçada nem embaralha como o aspirado”, diz ele). E se nas pistas seu famoso SS branco número 101 usa um câmbio G-Force quatro marchas, o similar de passeio foi equipado com um modelo automático TH400. “Sou meio ruim de trocar marcha”, diverte-se o experiente paulista de Barueri.
O mais curioso sobre o exemplar usado por Celso para seus passeios de fim de semana é que ele foi adquirido de um amigo que é fã dos Mavericks. Trata-se de um Opala Comodoro 1977 bordô, com teto Las Vegas e rodas Weld com talas distintas – naturalmente, com maior largura atrás, onde estão generosos pneus de 295 mm de largura, 20 mm a mais que seu carro de pista.
O motor, um seis cilindros de 4100 cm³, com turbina de porte pequeno que é sentida mesmo em baixas rotações (na faixa de 2500 RPM), entrega de 700 a 800 cv. A preparação inclui bielas de alumínio e pistões forjados. “É um carro que eu consigo pegar a marginal Tietê e ficar com 76º C de temperatura no motor”, exemplifica Camargo. Para o resfriamento do motorzão, a aposta foi na retirada do intercooler, compensada por um radiador de tamanho maior.
O adesivo na parte superior do para-brisa é deveras familiar para quem acompanha o pai do também piloto Gabriel nas corridas: traz o nome da Julieta Competições (veja um pouco da ação de ambos nas pistas neste vídeo). Afinal, os responsáveis pela montagem desta configuração do projeto são os mesmos das pistas: o preparador Vilson Ferreira e o tunner Marcel Ferreira, aluno formado pela FT Education (assista a um papo dele sobre os Opalas TT-A com Cristian Silva, da FTEducation, neste link).
O carro demorou cerca de dois anos para ser finalizado, sempre entre intervalos de preparo de carros de competição na oficina da Julieta. Antes disso, quando Celso o adquiriu, o possante rendia cerca de 500 cv e contava com um câmbio original da linha Dodge dos anos 70.
O gerenciamento eletrônico deste impecável exemplar do clássico da Chevrolet é feito por uma FuelTech FT400, acompanhada de um leitor de sonda WB-O2 Nano. O kit é completado por um volante FuelTech FTR aliviado, em combinação com a instrumentação AutoMeter que mescla conceitos clássico e racing no interior do veículo. Outros detalhes que chamam a atenção no pacote são o escapamento no lado esquerdo, entre a roda e a porta do motorista, bem como o uso de diferencial Dana 44 com blocante.
E se Celso resolvesse levar seu Opala de rua para as pistas, em uma competição outlaw de arrancada? Ele tem a receita do que seria preciso: “diminuir a relação, encurtar o diferencial, trocar os pneus e rezar para o diferencial aguentar”, brinca. Se não aguentar, a saída seria recorrer aos modelos Ford 9, há muito os preferidos dos preparadores de Opalas na TT-A.
Com tudo isso, será que este Comodoro ajuda a matar a saudade do Opala de corrida (com o mesmo carro que já fazia estragos há mais de uma década pelas mãos de Guilherme Emiliano, como mostra este vídeo) nos fins de semana em que não há provas? O feliz proprietário é categórico ao dizer que sim.
Afinal, em tempos de corridas suspensas pelo isolamento social, é uma alternativa de luxo para saciar a vontade de acelerar nas pistas. Palavra de quem não vive sem um exemplar de seu modelo preferido por perto: “eu amo Opala. Se eu não tiver um Opala na garagem pra eu pelo menos olhar pra ele todos os dias, fico doente”.
Quando as corridas voltarem, Camargo antecipa uma novidade a ser experimentada nos Opalas da TT-A: o uso de blocos do Chevrolet Ômega. Será a aposta para substituir os blocos da pick-up Silverado, muito utilizados nos últimos anos mas que se tornaram escassos ou com preço muito elevado para compra. “A estrutura do bloco do Ômega é a mesma [N. do E.:: em relação ao Opala], só muda a parte de trás, no câmbio”, explica.
A novidade será testada no Opala do filho Gabriel Camargo, que em 2019 cumpriu seu primeiro ano na TT-A – e terminou a temporada com um tempo de pista mais rápido do que o próprio pai em 402m (7s251 a 7s260).
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